A MAIS ANTIGA
A Academia Petropolitana de Letras é uma das mais antigas do Brasil. Foi fundada a 3 de agosto de 1922, em plena “Semana de Arte Moderna”, movimento novo da Cultura Brasileira, e a um mês das comemorações do centenário da Independência do Brasil, em cujas festividades petropolitanas imediatamente se inseriu e participou ativamente.
PRESIDENTE PREFEITO
O seu primeiro presidente era, na ocasião, prefeito de Petrópolis, o Dr. Eugênio Lopes Barcellos, convidado para a fase organizacional da entidade que tinha o pomposo título de “Academia Petropolitana de Ciências e Letras”. O primeiro estatuto foi redigido pelo idealizador da entidade, Joaquim Gomes dos Santos.
PIONEIRISMO FEMININO
A Academia foi uma das primeiras – senão a primeira do país – a admitir mulheres em seu quadro social e abrir a tribuna para os trabalhos literários de escritoras e poetisas. Nos primeiros dias lá estiveram Fausta Gouveia, Anadir do Nascimento Silva, Stela Aguiar, Germana Gouveia, Virgolina de França e Silva e outras. Germana Gouveia e Anadir do Nascimento Silva integraram o quadro efetivo.
DE ASSOCIAÇÃO À ACADEMIA
Coube à extraordinária Nair de Teffé Hermes da Fonseca presidir a Associação de Ciências e Letras nos anos de 1928 a 1932 e, atualizando a entidade, transformou-a em Academia Petropolitana de Letras, a partir de 5 de junho de 1929. Provavelmente foi a 1ª mulher a presidir uma Academia de Letras no país. A Diretoria que fez a transformação da Associação em Academia foi: Presidente: Nair de Teffé Hermes da Fonseca; 1º Secretário: Padre Lúcio Gambarra; 2º Secretário:Joaquim Gomes dos Santos e Tesoureiro: Soleyman Antoun.
EFETIVA PARTICIPAÇÃO
A Academia tem contribuído para manter viva a memória de personalidades de nossa cultura. A ela coube organizar e presidir as homenagens de inauguração dos bustos e hermas dos intelectuais Raul de Leoni, Euclides da Cunha e dos acadêmicos Carlos Maul (1971) e Nelson de Sá Earp ; contribuiu na inauguração do marco comemorativo ao centenário da Independência do Brasil (1922); participou, em 1933 da inauguração do busto de Nilo Peçanha; em 1939, das solenidades de sepultamento do Imperador D. Pedro II e Imperatriz D. Teresa Cristina na Capela Imperial e em 1971 da Princesa Isabel e do Conde D ‘Eu; em 1979 da inauguração do busto do acadêmico Antônio Cardoso Fontes. A foto mostra a inauguração da herma a Nelson de Sá Earp, médico, político, acadêmico, no final da rua que honra seu nome, no dia 9 de maio de 1992, no momento do agradecimento, em nome da família pelo filho do homenageado, Dr. Arthur Leonardo de Sá Earp.
PLACAS ACADÊMICAS
A Academia colocou artísticas placas de bronze junto à entrada de três importantes residências de personalidades, assinalando a honra e o privilégio de suas residências na cidade: na casa da Princesa Isabel, na Avenida Koeler; na casa do Barão do Rio Branco, onde foi assinado o “Tratado de Petrópolis”; e na casa onde faleceu Ruy Barbosa, na Avenida Ipiranga.
A NOSSA MARCA
O brasão – ou logomarca – da Academia foi idealizado e desenhado pela bibliotecária Maria Helena de Avelar Palma, no tempo da presidência de José Kopke Fróes. A autora, funcionária da Biblioteca Municipal e articulista na imprensa petropolitana com coluna sobre livros e escritores, era filha do acadêmico Anthero Palma e irmã do colunista social Décio Elysio de Avellar Palma, que marcou grande presença na imprensa da cidade.
ACADEMIA NO GRUPO ESCOLAR
A Academia, que foi fundada numa sala da Pensão Petrópolis onde João Roberto d ‘Escragnolle instalou a sua “Agência Alex”, de promoção turística e corretagem imobiliária, mais tarde funcionou, durante muitos anos, no salão nobre do Grupo Escolar D. Pedro II, graças ao apoio do Estado e da Diretora do educandário, a acadêmica Germana Gouveia. Quando o colégio expandiu seus cursos e construiu um anexo, a Academia perdeu o espaço, hoje transformado em salas de aulas.
OS SÁ EARPs NA ACADEMIA
A família Sá Earp tem presença na Academia em várias gerações: a cadeira 25 tem por patrono Arthur de Sá Earp, médico, tribuno, político, escritor, jornalista. O primeiro ocupante da cadeira foi o filho Arthur de Sá Earp Filho, médico, jornalista; o segundo o neto Arthur de Sá Earp Netto, educador, advogado. Outro filho de Arthur de Sá Earp Filho, o médico, escritor, político Nelson de Sá Earp foi titular da cadeira nº 12. A filha de Arthur de Sá Earp Netto ocupa a cadeira nº 9, a advogada e educadora Maria Isabel de Sá Earp Rezende Chaves. O filho de Nelson de Sá Earp, Arthur Leonardo de Sá Earp é sócio honorário.
A ACADEMIA E A IGREJA CATÓLICA
A Igreja Católica muito presente na Academia. Como patronos de cadeiras titulares os Bispos D. Francisco do Rêgo Maia (cadeira nº 19), D. Azeredo Coutinho (cadeira nº 26) e D. Agostinho Benassy (cadeira n º 15), o Monsenhor José Benedito Moreira (cadeira nº 39) e Frei Monte Alverne (cadeira n º 29). Como acadêmicos titulares, já falecidos: Bispo D. José Pereira Alves (cadeira nº 26), Monsenhor Conrado Jacarandá (cadeira nº 30), Monsenhor Francisco Gentil Costa (cadeira nº 19) e Padre Lúcio Gambarra (cadeira nº 29). Hoje são efetivos os sacerdotes: Bispo Emérito D. José Fernandes Veloso (cadeira nº 1), Bispo da Diocese D. José Carlos de Lima Vaz (cadeira nº 36), Monsenhor Paulo Elias Daher Chedier (cadeira nº 6) e Monsenhor Gilberto Ferreira de Souza (cadeira nº 30), Frei Alberto Beckhäuser, ofm (cadeira no. 31) e, eleito Frei Antônio Mozer, ofm (cadeira no. 18).
A POSSE DO PADRE JACARANDÁ
A Academia, no domingo, dia 25 de março de 1928, quando ainda era Associação, sob a presidência de Nair de Teffé Hermes da Fonseca, realizou tarde literária festiva, no salão nobre do Grupo Escolar D. Pedro II, para receber o novo associado Padre Conrado Jacarandá, vigário da freguesia e intelectual de nomeada, recebido pelo associado Paulo Monte. Para que se possa aquilatar o brilho da sessão literária e o prestígio que desfrutava a Associação, eis algumas das presenças: Dr. Cláudio de Souza, da Academia Brasileira de Letras; Dr. Antônio Joaquim de Paula Buarque, Prefeito de Petrópolis; Almirante Barão de Teffé e esposa, pais da presidente Nair; Dr. Alfredo de Mattos Rudge, presidente da Câmara Municipal; Desembargador Alfredo Russel, Almirante Octávio Jardim; membros da academia Reynaldo Chaves, Joaquim Gomes dos Santos, Walter Bretz, Padre Lúcio Gambarra, Soleyman Antoun, Arthur Barbosa, Ernesto Tornaghi, Vicente Amorim, Luis Moraes, Salomão Jorge; Dr. Álvaro de Freitas Guimarães, Manoel Alves de Seabra, Odilio Macieira e esposa, Coronel Antônio Condé, Geraldino Machado, Guimarães Júnior, Lisboa Serra, Alcebíades Mendes, Júlio Müller, Dr. Adolfo Gredilha, Manoel Teixeira Soares e esposa, Dr. Atilio Parin, A . Bertoni e esposa, Dr. Arthur Cruz, Dr. Octavio Silva Costa, Leite Guimarães e esposa; Dr. Carvalho Leite e esposa; as professoras Virgolina França Silva, Germana Gouveia, Georgina Jorge, Maria Amélia Condé, Angelina Antoun, Elvira Braga e Elza Carvalho; senhoras Maria Luiza Duclos, Antonieta Karnall, Christina Rombauer, Rosa Libonatti; enfim seletíssima platéia com muitas senhoras, fora as presenças que a reportagem da época não anotou.
ABAIXO O INDESEJÁVEL
Em junho de 1925 a Associação elegeu Alfredo Sade para sócio. A 31 de julho de 1925, o associado Carlos Paixão apresentou à entidade a seguinte proposta de deliberação: “Considerando que, na ocasião em que foi proposto sócio o sr. Alfredo Sade, a Associação de Ciências e Letras não tinha conhecimento do artigo violento e agressivo à cidade de Petrópolis, escrito pelo mesmo no nº 57 do “O Botafogo”, de 2 de maio de 1925. Considerando não ter o mesmo Alfredo Sade, apesar de aceito, tomado posse, não sendo, por conseguinte sócio desta Associação: Resolve anular o ato pelo qual foi eleito o sr. Alfredo Sade, lavrando assim o seu protesto contra a agressão feita a esta cidade. (ass) Carlos Paixão”. A diretoria reunida, sob a presidência de Arthur Barbosa e secretariada por Walter Bretz e Aloysio Silva, acatou o pedido e oficializou o documento. O “Jornal de Petrópolis”, noticiando o fato, disse em palavras curiosas: “Em bom português, traduz-se isso da seguinte forma: “essa espécie de literatos não serve, expulsemo-la”. E o cenáculo petropolitano está saneado. Parabéns”.
O ARTIGO DE SADE
Mas, que artigo foi esse que mexeu tanto com os brios da Academia? Ei-lo:
“DA CIDADE DE PEDRO
“Voltei de Petrópolis. Felizmente. Graças a Deus!
“O verão em Petrópolis morreu definitivamente. Daqui lhe atiro a última pá de cal. Aquela calaçaria suburbana que há em Petrópolis já me estava insuportável. Imaginem os leitores uma cidade em que não se pode ter uma aventura amorosa, todo o mundo vem a saber. “É horrível! É medonho! “Mas é fato. “E sempre as mesmas caras… coronel para cá, coronel para lá, major daqui, comendador d ‘ acolá… “E sempre andar de chapéu na mão… Arre! É demais, “Em Petrópolis, salva-se a Natureza. É bela realmente, lá isso é. “O Duque Estrada estava lá. Ele e os pronomes. E Paulo Silveira, também. E, ainda, o Manoel Bandeira. Em Petrópolis já há futuristas. Graças a Deus! Petrópolis deixou de ser velha. Já não tem cabelos brancos. E, o sr. Pedro II de bronze muito sujo e muito velho que existe na Bacia vai tomar banhos e pílulas de Voronoff. “Ainda bem, já não é sem tempo! “Agora estou no Rio. “Voltei para não mais voltar. “E trouxe também os nasóculos e as polainas. Alfredo Sade”.
RESCREVENDO A HISTÓRIA
O atual presidente da Academia está empenhado em acertar e definir a verdadeira história da Academia haja vista que existem algumas considerações contraditórias em sua história já pesquisada, como, por exemplo, as cadeiras patronímicas numeradas só surgiram na modificação estatutária de 1934. De 1922 a 1929 não existiu número fixo de associados, o que apareceu na modificação de 1929, que redenominou a Associação como Academia Petropolitana de Letras e estipulou o quadro em 50 associados. A reforma de 1934 adotou 40 cadeiras patronímicas e os interessados em permanecerem na entidade escolheram seus patronos, que subsistem – fixos – até hoje.
11 ESTATUTOS
A Academia Petropolitana de Letras , provando sua modernização e constante atualização, já aprovou 11 Estatutos. O último, registrado em 19 de abril de 2006, em vigor.
A ACADEMIA, O MAESTRO E A ESCOLA
A Academia tem estreita relação com a centenária Escola de Música Santa Cecília. O fundador da Escola, Maestro João Paulo Carneiro Pinto foi um dos fundadores da
Associação de Letras primitiva, participou de seu primeiro ano de atividades e, ao falecer em 1923, teve a Academia na capitânea de seu sepultamento e na campanha popular para a construção do túmulo onde jaz o querido maestro.
EXÉQUIA CÉLEBRE
A 23 de fevereiro de 1942 o escritor Stefan Sweig suicidou-se junto com sua secretária Elisabeth Charlotte, na casa onde residia em Petrópolis, na rua Gonçalves Dias. Coube à Academia Petropolitana de Letras, presidida por Francisco Carauta de Souza promover a câmara ardente no salão nobre do Grupo Escolar D. Pedro II, sede da Academia, juntamente com a diretora do educandário, a acadêmica Professora Germana Gouveia.
ACADEMIA DESPEJADA
Na administração acadêmica de Serpa de Carvalho, biênio 1947-1949, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Coronel Macedo Soares mandou despejar a Academia do grupo Escolar D. Pedro II, sob o fito de ali instalar a secretaria do Ginásio Estadual, o que efetivamente ocorreu. O ato foi de necessidade e justo. O lamentável foi a nova direção do educandário lançar no Bosque do Imperador toda a documentação histórica da entidade, a qual rasgada, espalhada e pisoteada ganhou, por indigno fim, sepulcro nas lixeiras municipais. Foram-se livros de atas, fotografias, cartas, enfim, todo o acervo acadêmico amealhado desde a fundação em 1922. Faltou – e não podemos apontar responsáveis – à própria direção acadêmica, correr adiante do fato para não permitir o funesto desiderato. Aconteceu, e pronto!
HOMENAGEM À CONDESSA
A Condessa de Paris, princesa Isabel de Orleans e Bragança, escreveu um belo livro de memórias “De Todo o Coração”, lançado com sucesso na Europa. Traduzido para o português por Vera Mourão, a Academia integrou-se ao Museu Imperial para lançamento da obra em Petrópolis, o que ocorreu a 14 de outubro de 1984, a partir das 18h30min. no Museu. Na ocasião a Academia homenageou a Condessa com uma recepção na residência do acadêmico Flávio Castrioto de Figueiredo e Mello, o qual, com a esposa Heloisa foram perfeitos anfitriões. Na foto, o presidente Joaquim Eloy, acadêmico Mário Fonseca, sra. Heloisa Castrioto, Condessa de Paris, Genita Adão e esposo acadêmico Claudionor Adão e Príncipe D. João de Orleans e Bragança, irmão da homenageada.
A INSTALAÇÃO DO SILOGEU
A Academia Petropolitana de Letras tem sede no Silogeu Petropolitano, à Praça da Liberdade nº 247, graças ao empenho do acadêmico e ex-presidente, o saudoso professor José de Cusatis. O imóvel pertence ao Governo Federal, por doação da família do escritor Claudio de Souza, e foi cedido à Academia, juntamente com as Academias de Educação, de Poesia Raul de Leoni, de Ciências Neurológicas e Instituto Histórico de Petrópolis. O Silogeu foi instalado e inaugurado a 2 de setembro de 1993. Na foto o acadêmico José de Cusatis, idealizador do Silogeu, profª Noelma Simões Costa, presidente da Academia de Educação, Drª. Maria de Lourdes Parreiras Horta, diretora do Museu Imperial, Prof. Dr. Lélio Gomes, presidente da Academia de Ciências Neurológicas, Prof. Antônio Eugênio Taulois, presidente do Instituto Histórico de Petrópolis, poeta Edith Marlene de Barros, presidente da Academia de Poesia Raul de Leoni e professor Joaquim Eloy Santos, presidente da Academia de Letras e orador oficial da solenidade de instalação, em nome de todas as instituições.
PARABÉNS AO CIVISMO!
Em janeiro de 1929 a Associação de Ciências e Letras convidou um conferencista do Rio de Janeiro, de certa fama, para uma palestra. Este, aceitando a incumbência, desmanchou-se em críticas ao país e à cidade de Petrópolis, ofendendo brios da platéia e da própria Associação que agasalhara seu infeliz pronunciamento. Joaquim Gomes dos Santos, em sua coluna na “Tribuna de Petrópolis”, edição de 26/1/29, comentou: “Não assistimos à última recepção na Associação de Ciências e Letras, mas pessoas fidedignas, que lá estiveram deram-nos o seu testemunho de que o recipiendário ofendeu profunda e gravemente a alma nacional. Esse senhor, que o nosso país agasalhou e honrou, elevando- a posições nobilíssimas, qual a de mentor de sua mocidade, arrogou-se o direito de tripudiar sobre as nossas glórias e a nossa gente, supondo, talvez, que as nossas questões domésticas nos tenham feito perder a sensibilidade e que assim seríamos capazes de ouvir e engolir sem pestanejar os desaforos que entendesse nos lançar em rosto dentro de nossa própria casa. Enganou-se redondamente…” O Barão de Teffé, que já houvera escrito na imprensa sobre o assunto, enviou um cartão a Joaquim com os seguintes dizeres: “Ao ardente patriota que na Tribuna de hoje, sob o pseudônimo “Hebdomadário” escreve o belo artigo “Sabatinas”, vem agradecer o velho Almirante Barão de Teffé, as frases de esmerada gentileza com que lhe aprouve associar-se ao seu protesto contra as zombarias do orador de domingo na Associação Brasileira de Ciências e Letras”. Os atentos petropolitanos não deixaram passar sem registro o fato lamentável. Coisas daqueles dias da “belle èpoque”.